Previdência privada é boa?

Estudiosos alertam para os valores baixos pagos por esses planos e os riscos nesse investimento

As mudanças propostas pelo governo Temer nas regras para aposentadoria forçaram uma corrida dos brasileiros aos planos de previdência privada. Os aportes somaram R$ 114,72 bilhões entre janeiro e dezembro de 2016, crescimento de 19,93% em relação a 2015. Os dados são da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida.
Um péssimo negócio, segundo especialistas. As diferenças entre os valores dos benefícios pagos pelos planos privados e os concedidos pela Previdência Social são “monumentais”, alerta o estudioso em Previdência e ex-presidente da Associação Nacional dos Participantes do Fundo de Pensão (Anapar), José Ricardo Sasseseron. Ele elaborou estudo a respeito (veja tabela).
Sasseron destaca, ainda, o risco de relação tão duradoura com empresa de previdência privada. Ele ressalta que a Previdência Social é assegurada pelo Estado e pela Constituição por meio de impostos e contribuições, ao contrário dos planos de previdência complementar, que não oferecem o mesmo tipo de garantia. “A pessoa vai ter uma relação de 50, 60 anos com o banco, e aí cabe a seguinte pergunta: quantas empresas com mais de 60 anos de existência existem no Brasil? Dá para confiar?”

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“A previdência privada não dá segurança nenhuma, porque os bancos estão sujeitos aos riscos da economia”, reforça Denise Lobato Gentil, professora do instituto de economia da UFRJ.
Ela cita como exemplo as crises financeiras dos Estados Unidos, em 2007, e da Europa, em 2010, cujos efeitos são sentidos ainda hoje, e que levou diversos fundos de previdência complementar à falência. A OCDE estima que as perdas tenham chegado a US$ 5,4 trilhões no final de 2008, por conta da crise iniciada no ano anterior.
A economista alerta para outra questão: a amplitude da cobertura dos benefíciosconcedidos pela Previdência Social – que vão além da aposentadoria por idade –, como auxílios doença e acidentário, aposentadoria por invalidez e pensão por morte. Já os bancos privados cobram pela aquisição de cada uma dessas coberturas, com elevação de custos.
Para Denise, há um desejo do governo em impor uma reforma que beneficie os bancos. Ela ressalta as diversas reuniões entre o secretário de Previdência Social, Marcelo Abi-Ramia Caetano, e representante do setor de previdência privada.
“Estamos na contramão do queocorre no mundo.”

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